Não sei pra quê, mas um costume que se tornou muito comum entre as pessoas foi o de ter curiosidade sobre os sonhos dos outros. "Qual é o seu maior sonho?" Convenhamos que esta pergunta deveria ser muito difícil de ser respondida. A conotação do substantivo nessa frase é completamente pragmática. Confunde-se a fantasia com planejamentos futuros. Quando te perguntam isso não querem saber da sua melhor ou mais intensa abstração. Querem saber se você quer uma casa, um carro, um casamento. Sonhos são desejos malucos do nosso subconsciente, impossíveis de subirem para o nível da realidade.
Agora, admitindo o significado vulgar da palavra, aproveito pra observar que separam gente em sonhadores e não sonhadores. Ou o melhor, ter sonhos agora virou requisito para ser uma pessoa nas CNTP. Todas as vezes que meu maior desejo foi perguntado eu respondi, simploriamente, que não sabia. As reações sempre tendiam pra reprovação, afinal, como é possível essa jovem mocinha não ter sonhos? Olha, eu tenho tudo o que preciso. Casa, comida, roupa lavada... Meus hábitos não são autodestrutíveis, separo o lixo pra reciclagem e desligo a torneira enquanto escovo meus dentes. Porque pra ser uma pessoa normal eu preciso viver num mundo onírico? Ninguém gosta dos pragmáticos? Ninguém mesmo? O que há de errado em não ter grandes ambições românticas? A verdade é que eu me sinto como se fosse uma concorrente a Miss Qualquer-Coisa sendo sabatinada no processo de seleção. Desculpa, mas meu livro preferido não é o Pequeno Príncipe. Esse besteirol romântico só me faz sentir a angústia de não ter grandes planos. Todo ser humano bonito e decente sonha e luta por seus sonhos. Mas eu não funciono muito desse modo, não.
Na verdade, eu tenho metas, sim. Só que eu me mantenho no limite da objetividade. Meus alvos eu atinjo com esforço e empenho. E deixo pra sonhar nas pequenezas cotidianas, que são fluidas, são delírios, são fugazes, assim como os sonhos. O que eu quero de verdade são perfuminhos, besteirinhas, docinhos de chocolate. Um amorzinho aqui, outro acolá. Dias de sol e de chuva. A quentura do asfalto... Assim eu vou vivendo de leve, respirando solta, sem carregar o peso de um grande sonho nas costas.